quarta-feira, 6 de março de 2013

As cartas que o meu pai me há-de escrever. Parte II – Laços


Partir para a capital não foi um sonho concretizado. Calhou ser assim. Não calhou ser provinciano a vida toda, apesar de saber que ainda sou.

 Aquele "é já tempo d’embalar a trouxa e zarpar” soava-me sempre a ordem de despejo.
Ou era só eu queria voltar para a terra? 
Para casa. Para o frio da lareira e o assobiar dos pinheiros.

O santo nome de minha mãe por si só lhe deu lugar no Céu.

Já o bom coração lhe deu tormentos na Terra. 

O meu elemento primordial é este. A Terra, para onde hei-de voltar. O conforto e o calor castanho da terra ultrapassam a beleza azul da água e a liberdade asfixiante do ar.

Quero envelhecer no campo onde a tranquilidade que agora me enerva então me acalmará. Quero lareira e um alpendre. E um cão fiel que se deite a meus pés.

Tu também. Mas enquanto eu vou ter alguém, tu continuarás a querer ter toda a gente.

Nunca aprendi o que é paixão. Acho que sei o que é amor. E sei que nunca saberei outra coisa. 

Duvido que tu venhas a conhecê-lo.

Pobres e podres dedos os teus marcados de tantas alianças postas e tiradas.

Fazes lá ideia do que é amar incondicionalmente. 
Batia-te se te ouvisse dizer amo-te. 
Batia-te pela primeira vez.


Às vezes repreendes-me. Ninguém o faz tão assertivamente. Nem a tua mãe. 

Talvez a minha...

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