terça-feira, 28 de abril de 2020

O que é que tu queres?

Mas o que é que tu queres afinal da vida? Ainda não estás satisfeito?

Querias isto. Já está!
Querias isto. Já está!

Ninguém fez por ti. Foste tu!

Sim, por vezes tiveste sorte. Mas não foram muitas mais as vezes em que tiveste azar?

Então essa ansiedade toda, seguida de revolta de quem se convence de que não é capaz, de onde vem?

Sossega. Pensa no que pediste e olha para o que tens. Não podes "só" aproveitar?

Isso... 

Agora vive um pouco. Não fodas tudo.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Mais bondade, por favor.

Pode ser apenas no detalhe.

Não é preciso esforço, não é preciso fingimento. De certo que há algo de bom que se possa dizer ou fazer pelo outro. E no caso de não haver, pois melhor que nada se faça.

Trata-se apenas de cuidar. Saber que todos aqueles que tocamos precisam de ser cuidados. E o cuidar que é tão nobre, depende às vezes de tão pouco: de um elogio, de uma saudação ou apenas de um sorriso.

Cada vez que somos tocados por um gesto dessa bondade, a nossa esperança aumenta. E não precisamos todos de esperança?

Pratiquemos então essa bondade a cada toque. Sejamos todos cuidadores dos que nos rodeiam. Porque no final do dia, tudo o que importa, é ter quem cuide de nós, e que tenhamos cuidado de alguém.

Obrigado àqueles que o praticam e que, sobretudo nestes dias, têm tido um impacto tão grande. Sois uns heróis, porque é isso que todos os cuidadores são.

Nurturing and Caring, by Leon Zernitsky

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Quero ir embora,
Mas quero ficar.
Quero fugir,
Só não me deixes sair.

Quero ficar
e só ir e voltar.

Se esta casa já não for nossa
E este corpo já não for teu,
Que vai ser de mim
Outra vez por aí?

Quero ficar
E só ir e voltar.

E se eu então desistir
Não desistas de mim,
Porque eu só quero saber
Que vale a pena ficar.

sábado, 18 de abril de 2020

O revoltado

É esta revolta que me consome agora.

A ideia de azar.

Mesmo com a convicção já conquistada de que sou eu quem determina a minha vida, tem estado muito presente a memória de eventos externos que tanto determinaram a minha "sorte".

E é que só me ocorre aqueles que não me favoreceram! São tão vívidos esses acasos, essas interações e essas pessoas que "por acaso" aconteceram na minha vida. Claro que a minha reação a elas terá sido igualmente (ou ainda mais) determinante. Mas bolas (!), nunca me calha ter a sorte de esses acasos serem favoráveis?

"Foco no que eu possa controlar!", é esse o mantra. Mas que raio poderá determinar o sucesso e a felicidades de alguém, que dependa unicamente de si?

Eu esforço-me (muito) nas relações com os outros. Na verdade esforço-me para lhes agradar, é isso. A tentativa de reconhecimento de mim através dos outros.

Mas em vão. Porque se para os outros o proveito é parco, para mim está visto que é nulo.

E que fazer?

À falta de outras opções, "será preferível ser temido ao invés de ser amado"?

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Os generosos egoístas

O que vejo não são sinais de generosidade e de humanidade. O que vejo é a defesa individual e o egoísmo dos povos a determinar as ações políticas.

Qual é o tamanho do bem-maior? É o bem de um doente, de um agregado, de uma região, de um país? Ou ainda, o de um governante e de uma força política?

Sois todos muito altruístas, mas o apoio que vos vejo dar é circunscrito àquilo que vos é próximo.

Vejo-vos aplaudir a recusa de ajuda àqueles que possam estar verdadeiramente afetados: “Coitadinhos, mas longe. Ide procurar ajuda noutro sítio, porque não queremos que isso entre aqui.” 

Aplausos para os líderes!

Não vai ficar tudo bem. Porque na melhor das hipóteses vai ficar tudo igual. E esse igual que vive dentro de cada um de vós, que vive no seio das comunidades e das regiões, é muito feio. É assustador.

É terrível como o medo vos faz desprezar tudo aquilo que apregoais ser.

"O Marella Explorer II, com mais de 700 pessoas a bordo, viu negada, pelo Governo dos Açores, a autorização para que pudesse atracar na região. Posteriormente, a operadora indagou também o Executivo de António Costa sobre a possibilidade de rumar a Lisboa, pedido este que também foi negado."

sábado, 11 de abril de 2020

Diário de um isolado.


Há cerca de um mês que comecei (ou voltei) a viver esta doença. A doença do isolamento imposto pelo pânico dos outros.

E este isolamento que sinto é talvez o mesmo que já senti muitas outras vezes na vida, mas que agora parece mais tangível.

Os isolamentos de que sofri até hoje, ainda que influenciados pelos outros, materializavam-se essencialmente dentro de mim. Este materializa-se pelas quatro paredes deste pequeno apartamento e pelo mar que rodeia esta ilha que já me pareceu ser tão grande.

Mas não sei se este isolamento é diferente dos outros. Também este começa no medo e no desconhecido. Também este vos faz olhar para o outro em vez de vos permitir olhar para vós. Faz com que culpem qualquer um, para que não preciseis de ser responsáveis.

E é o medo, sempre o medo. É o medo que vos faz apontar o dedo. É o medo que vos faz afastar os outros. É o vosso medo que faz crescer o meu.

Os estados pelos quais passei este mês não são novos, mas agora não tenho outro remédio senão enfrentá-los. E no meio deles há uma palavra que nem consigo trazer facilmente à memória.

Lembrei-me, é “estigma”. É essa a palavra!

Aquilo que tanto me assusta e assola os pesadelos. Mais que a doença ou a pobreza, sempre foi o estigma. Esse estigma que eu procurei e com quem tenho brincado ao toca e foge.