sábado, 11 de abril de 2020

Diário de um isolado.


Há cerca de um mês que comecei (ou voltei) a viver esta doença. A doença do isolamento imposto pelo pânico dos outros.

E este isolamento que sinto é talvez o mesmo que já senti muitas outras vezes na vida, mas que agora parece mais tangível.

Os isolamentos de que sofri até hoje, ainda que influenciados pelos outros, materializavam-se essencialmente dentro de mim. Este materializa-se pelas quatro paredes deste pequeno apartamento e pelo mar que rodeia esta ilha que já me pareceu ser tão grande.

Mas não sei se este isolamento é diferente dos outros. Também este começa no medo e no desconhecido. Também este vos faz olhar para o outro em vez de vos permitir olhar para vós. Faz com que culpem qualquer um, para que não preciseis de ser responsáveis.

E é o medo, sempre o medo. É o medo que vos faz apontar o dedo. É o medo que vos faz afastar os outros. É o vosso medo que faz crescer o meu.

Os estados pelos quais passei este mês não são novos, mas agora não tenho outro remédio senão enfrentá-los. E no meio deles há uma palavra que nem consigo trazer facilmente à memória.

Lembrei-me, é “estigma”. É essa a palavra!

Aquilo que tanto me assusta e assola os pesadelos. Mais que a doença ou a pobreza, sempre foi o estigma. Esse estigma que eu procurei e com quem tenho brincado ao toca e foge.

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