domingo, 30 de maio de 2010

P'ra bom entendedor, todas estas palavras bastam

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto

Estrela da Tarde, José Carlos Ary dos Santos

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os medos e as expectativas

Uma fadinha teve a amabilidade de partilhar este texto comigo e é tão verdade que aqui fica registado:

"Quando alguém entra na nossa vida deparamo-nos com os nossos medos ao quadrado, com outras experiências que naturalmente são diferentes das nossas porque claro que somos indivíduos diferentes, com vivências diferentes, o que é normal, nada mais normal...Também é normal que sejamos confrontados com algumas cicatrizes, as dos outro, das quais nos vamos apercebendo porque somos pessoas de tacto e até às nossas as que existiam e as que nem sabíamos que tinham se revelam, ficam mais sujeitas a abrir e é nestes momentos de conhecimento mútuo, de inicio de qualquer coisa que ainda não sabemos bem o que é, é nestes momentos que realizamos na nossa cabeça o mal que a última aventura/desventura nos deixou, porque o medo que nem sabíamos que tínhamos se revela como uma pesada herança, e a esta não podemos dizer: "Não quero" afinal ela está-nos gravada na pele, na cabeça, no coração, molda-nos os actos, faz-nos dizer as palavras a medo, pensá-las quando há uns tempos atrás a boca atraiçoava-nos, dizia o que o corpo queria e agora...agora a cabeça aplica a censura e perde-se muito, muito...

Mas o ser humano é assim, é um sobrevivente, resistente e poucas vezes inconsciente.

Para além dos medos há as expectativas, as expectativas que o outro tem, que cria em relação a nós...Os sonhos, que são do outro, mas que precisam de nós para ser realizados e aí os nossos medos crescem exponencialmente...porque se é perigoso quando um quer mais perigoso é quando dois querem e o alerta vermelho acende-se ainda mais quando o outro quer mais do que nós...Agora a questão é saber porque o querem, se é porque o querem ou querem porque o medo está a falar mais alto...

O medo, o eterno medo..."

Em http://araparigaquematouocoracao.blogs.sapo.pt/180416.html

domingo, 16 de maio de 2010

O Vendaval

Sabem aquelas músicas que aparecem do nada e que vos parece que foram escritas naquele momento para vocês? Ora aqui vai o que me apareceu esta tarde enquanto tomava banho:

O Vendaval passou, nada mais resta
A nau do meu amor tem novo rumo
Igual a tudo aquilo que não presta
O amor que me prendeu, desfez-se em fumo

Navego agora em mar de calmaria
Ao sabor das marés, em verdes águas
Ao leme o esquecimento, e a alegria
Vai deixando para trás, as minhas mágoas

Para onde vou?
Não sei...
O que farei?
Sei lá...
Só sei que me encontrei
E que eu, sou eu enfim
E sei
Que ninguém mais rirá de mim

Longe no cais, ficou a tua imagem
Mal a distingo já esmaecida
Comigo a alegrar-me a viagem
Vão andorinhas de paz - de nova vida
Sigo tranquilo o rumo de Esperança
Buscando aquela paz apetecida
P'ra ti eu fui um lago de bonança
E tu, um Vendaval, na minha vida.

O Vendaval, Joaquim Pimentel e António da Fonseca Rodrigues

sábado, 15 de maio de 2010

Ballet for Life

Há quem recuse enfiar-se numa caixa com a multidão.
E são esses que, habitualmente, ajudam a multidão a sair da caixa.

Bejart Ballet Lausanne, Ballet for Life

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A viagem

Todas as tristezas e alegrias da vida fariam sentido se conhecêssemos a priori o destino para o qual caminhamos.

(Muito profundo? Talvez, mas cá vai disto...)

Tal como numa peregrinação, em que todos os sacrifícios são compensados pelo momento da chegada, na vida teríamos outra motivação se soubéssemos como é chegar ao fim.

Resta-nos acreditar que caminhamos num bom rumo e, assim, a estrada parece ter menos curvas.
Afinal há coisas (e pessoas) insubstituíveis.

Isto significa apenas que, por muito que as consigamos ultrapassar, há um lugar que nunca será plenamente preenchido sem elas.