sexta-feira, 1 de maio de 2020

"Somos livres, somos livres de voar"

Não somos. Prenderam-nos.

E se esta tão surpreendente mas limitada privação de liberdade nos faz tanto mal, que dizer daqueles que foram verdadeira e injustamente encarcerados?

Se eu consigo sentir a revolta, a raiva e a injustiça "só" por não conseguir voltar depressa para o meu ninho, qual terá sido a dimensão das angústias que outros suportaram?

Não é só aos bravos profissionais de saúde e aos nossos frágeis idosos que devemos empatia. 

Que estes tempos sirvam de memória a todas as liberdades condicionadas. De consideração por todos aqueles que por imposições de qualquer ordem se viram impedidos de viver plenamente. Nos seus países, nas suas comunidades, nas suas famílias ou dentro de si.

A minha saúde mental está afetada, é evidente. E eu estou apenas confinado a uma ilha. Serão os limites de todos nós tão elásticos que nos permitiriam lidar igualmente com privações tão maiores quanto aquelas que matam gente (e que extinguem a vida que há naqueles que sobrevivem)?

Talvez sim. Certamente que sim.

O que temo é que sejamos igualmente elásticos ao ponto de assumir a posição oposta, levando-a também ao limite. Quem limita uma liberdade, quantas outras estará disposto a limitar? E com que critério, com que motivação? E com que castigo?

Medo. Populismo. Política.

São tempos perigosos para a nossa liberdade.

Esta justificação sanitária que agora temos há de ser passageira, mas a natureza humana não o é!

Agora que lhe tomaram o gosto (ah, e se gostaram!) não tarda que voltem a reclamar a sua autoridade para controlar definitivamente este povo que, afinal de contas, prefere mesmo que assim seja.

Isolation, by Georgios Papadimitriou